Olha, ontém passei um dos maiores perrengues da vida. Ao embarcar de forma problemática num avião que levaria 2 horas para chegar ao Rio, fiquei preso com minha filha durante 7 horas na aeronave, ilhado nos céus, por momentos sem ter onde ir pousar, enfrentando tempestaddes e a preocupação repassada aos passageiros pelo próprio Comandante.
Ao sobrevoar o Rio de Janeiro, na chegada, o avião sacudia e entrava em vácuos homéricos, com clarões assustadores, assim permanecendo por muito tempo, até que o Comandante informou que não tinha condições de pouso no Galeão e que estava sem opções de posuo em Belo Horizonte e São Paulo também, o que tornava a situação mais preocupante ainda.
Ilhados no céu, sem rumo, sem ter para onde ir, o cortação começa a disparar e a preocupação de todos era visivel e comecei a pensar que estamos vivendo realmente o final dos tempos. Mas isso ainda não permitia que pudessemos supor que a coisa estava apenas no início.
Em casa a família em polvorosa e no aeroporto do Galeão, meu filho e um amigo, que me aguardavam, estavam sobressaltados, sem receber da TAM qualquer notícia. O caos estava instalado. Ao lado deles um monte de gente vivendo a mesma angustia.
Enquanto voavamos aos solavancos sobre o Rio de Janeiro, depois de algum tempo, o Comandante informa que iria tomar o rumo de São Paulo porque haviam mais aeroportos e
tentaria pousar em um deles. Ao sair do Rio ainda tivemos uns 30 minutos de sobressaltos até recebermos a informação de que Guarulhos permitiria o pouso.
Duas poltronas atrás, Pepeu Gomes e sua banda também sofriam. Espalhados pela aeronave, gringos de diversas nacionalidades falavam com seu linguajar caracteristico, todos demonstrando pavor diante do que acontecia.
Em seguida, após um monte de solavancos chegamos a Guarulhos. Pensei com meus botões que deveria saltar, alugar um carro ou contratar um taxi e pegar uma estrada por umas 6 horas para chegar. E cá prá nós, era o que devia ter feito.
Depois de horas dentro do avião, o Comandante avisa que recebera informações de que no Rio já era possível pousar e que voltariamos. A esta altura eu sonhava com a possibilidade de fumar um cigarro mas era impossível.
Mais uma vez decolamos e o Comandante informou que poderiamos pegar alguma turbulência, porém nada preocupante até chegar ao Rio. Aproximadamente 25 minutos depois, já chegando ao Rio, começa o suplício e aí foi realmente terrível. O avião descia vertiginosamente, subia, balançava e o que se via era o pavor estampado em cada rosto. Mais de 5 horas ali dentro e só sofrimento, pânico.
Chega uma hora que orar é a única saída e dava prá sentir que a grande maioria fazia isso. As pessoas fechavam os olhos e não havia o que dizer, o que fazer. Sofrimento total. Minha filha que era debutante em avião estava longe de mim porque só haviam vagas distantes um do outro, mas volta e meia olhava com ar de preocupação. A seu lado um casal de russos querendo conversar e ela sem entender porra nenhuma. O lado cômico sempre está próximo do trágico.
Finalmente conseguimos aterrisar. Mas ainda não terminara o suplício. O avião não seguiu para uma das esteiras de desembarque, foi para o pátio onde três ônibus aguardavam, deibaixo de uma chuva torrencial. Todos aliviados, mas o suplício continuava porque mais de uma hora ficamos presos alí, aguardando uma escada. Quando chegou, não tinha cobertura e a chuva impedia o desembarque porque a TAM não tinha guarda-chuvas. Parecia piada, mas era verdade e todos com os nervos aflorados, enquanto o Comandante não sabia mais o que dizer.
A chuva deu um refresco, diminuindo a intensidade e quem quis se aventurar, mesmo se molhando foi para o ônibus. Todos foram e assim chegou ao fim o suplício de uma viagem histórica e que ainda agora, quando escrevo, sinto meu corpo vibrando. Não dá prá esquecer o dia em que fiquei ilhado no céu.