JUSTIÇA FEITA

Eu hoje fui obrigado a rever alguns conceitos. Hoje eu estou feliz, readquiri a fé e mesmo que dez anos depois, tenho que me curvar à justiça dos homens. Depois de largo período discutindo juridicamente a retirada de direitos pessoais em minha função, adquiridos com trabalho e dedicação, eis que me deparo com a decisão do maior tribunal do país reconhecendo o meu direito e de mais duas dezenas de companheiros sofredores.

Foram anos de luta, de espera, convivendo com uma covardia cega e avassaladora, que fez sofrer inúmeras famílias porque retirou do pagamento dessas pessoas benefícios alcançados com suor e lágrimas.

Ao longo desses anos vi colegas passarem as mais severas privações, humilhações, enquanto outros tantos se locupletavam com os benefícios de amizade e favorecimento. Dói na alma, no bolso, em tudo.

Faltava apenas um julgamento de um recurso no Supremo Tribunal Federal. Há um ano aguardávamos o pronunciamento daquela corte, mas a fé nunca nos deixou esmorecer.

Na semana passada, após três meses de espera, consegui marcar uma audiência com o Ministro Dias Toffoli, com quem estava nosso processo. Já no aeroporto para embarcar, sofri um desmaio no saguão e fiquei aproximadamente 30 minutos estirado no chão, esperando atendimento que só veio depois que já estava de pé. Recusei por ver que não seria um atendimento digno.

Nesse episódio fui auxiliado por um técnico em primeiros socorros, mergulhador, que tirou minha pressão, me auxiliou em tudo até o embarque. Que Deus o proteja e ilumine. Confesso que relutei muito em seguir viagem, mas estava em jogo a vida de mais de duas dezenas de sofredores, que como eu, vinham lutando há dez anos.

Meu objetivo em Brasília era único: pedir para que o processo fosse colocado em pauta para julgamento. Só isso.

Fruto de vários contatos que mantive por telefone, fui recebido com tanta fidalguia, com tanto carinho, com a simpatia de Gisele, uma jovem servidora que honra os quadros funcionais do STF, que fiquei surpreso.

Meu contato foi rápido e objetivo. Pedi o julgamento do processo, que fosse colocado em pauta, mesmo que fosse negado estaria com minha missão cumprida.

Hoje, no supermercado, fazendo compras, recebi um telefonema de uma colega:

-Emidio, prepare seu coração: GANHAMOS!!!

Confesso que perdi um pouco a serenidade e gritei, me abraçando com minha mulher, que também sofria o mesmo problema e figura no mesmo processo. Nos abraçamos emocionados e choramos sob os olhares estupefatos de centenas de pessoas que nada entendiam. Aquele momento era só nosso, era o desabafo incontido que aflorava diante da injustiça enorme que sofremos ao longo de tantos anos. Um momento sublime, emocionado, sofrido. Quase fomos aplaudidos.

A alegria que sinto agora é enorme e senti vontade de compartilhar com vocês, leitores do Teleblog que tem sensibilidade e certamente entenderão esse desabafo de um brasileiro que não se conforma com a perseguição política, que tem sangue nas veias e o compromisso com seus colegas e acima de tudo com sua família.

Este post é apenas uma forma de extravasar essa alegria, mas serve como um brado para aqueles que sofrem com a injustiças para que nunca deixem de lutar. Acreditem porque a justiça divina não falha e pelo que vejo, a dos homens ainda pode ser feita.